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16 de janeiro de 2015

Sombra no escuro


Existem medos mais fortes que nós.

Receios que não conseguimos controlar, mas que de alguma forma os sabemos infundados.

Como o medo do escuro! Quando era criança tinha pânico do escuro.


Aquele negrume do corredor era suficiente para me paralisar as pernas. Sempre que ia para a cama, aquele escuro terrível conseguia prender-me a língua e qualquer barulho era suficiente para me arrepiar a espinha.

Olhava para cima, para baixo, esquerda e direita; e nada via. Nada havia senão o negro misterioso a engolir o quarto. E quando o medo era insuportável, fechava os olhos com tanta força que passava a ver estrelas!

E aí percebi que não era do escuro que eu tinha medo. O que eu receava era a ausência de luz.
Se não há luz, há escuridão; e na escuridão não sei o que lá está. E o ser humano tem sede de saber (ou pelo menos deveria ter). Sempre que ficava escuro, eu fechava os olhos. E criava o meu próprio escuro, onde as estrelas iluminavam o caminho para os meus sonhos.

Hoje, não tenho medo do escuro e vivo de olhos bem abertos.
Aprendi que há coisas mais negras que o escuro, e coisas mais iluminadas que uma tarde de verão ao sol.
Fiz amizade com as sombras cosidas nos meus pés e que me perseguem sempre que estou na luz. E afastei-me das trevas que habitavam nos meus recantos escuros.

Hoje, estou em paz.



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