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19 de janeiro de 2015

Deixa-me cair


Já sonhaste que conseguias voar?

Que caías descontroladamente, e a meros centímetros do chão, voltavas a bater as asas e subias aos céus?

Eu já.




Já experimentei a serenidade de sentir o rosto acariciado pelo vento, como se uma mão de algodão me quisesse levar as lágrimas que escapavam silenciosamente.

Já senti a pressão da descida a comprimir cada recanto do meu coração, como se cada tristeza fosse excomungada da minha alma. Quando estou a voar, nada mais importa; nada me preocupa.

Naquele momento, não oiço nada, não vejo ninguém, não digo palavra alguma. E nada me dói.

Quando consigo voar, o corpo que é meu não me pertence, e as nuvens recebem-me como sua inquilina.
Quando me deixo cair do céu, tudo o que me incomoda desaparece a cada metro que me permito planar.
E quando me deixo cair a sério, sem pensar no destino que me espera, consigo abandonar o que me é real. Deixo esta existência; conquisto uma plenitude que só é alcançável por aqueles que se permitem cair no vazio.

O vazio é bom... É certo que nada lá habita; não há nada para além da minha essência. E o eu que lá deixo entrar nada tem que o preocupe. No vazio, não há dor. E quando a dor está ausente, existe lugar para a tranquilidade.

Por isso, deixa-me cair. Deixa-me cair em voo picado para o vazio.

Deixa-me cair...

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