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23 de janeiro de 2015

Escondidos

O bar estava cheio.

O fumo no ar era demasiado denso para permitir que ela o visse bem e a música em decibéis ilegais impedia que ela chamasse por ele sem que parecesse desesperada.

Mas ele viu-a logo. Poderia tê-la avistado a dois quilómetros de distância, e continuaria a saber de cor cada traço dela.


O vestido vermelho que lhe quis automaticamente despir era justo e acentuava as suas curvas perigosas; os seus seios redondos e empinados gritavam por libertação do decote indiscreto.

O cabelo estava imaculadamente apanhado num rabo-de-cavalo e balançava a cada passo que ela dava na sua direcção. Os ombros nus, as pernas despidas, o pescoço ausente de qualquer acessório. Cada pedaço de pele que o vestido dela não escondeu estava a pedir a boca dele.

Tudo à volta deles parecia abrandar de ritmo e, com isso, demorava-se o reencontro dos seus corpos famintos um do outro. Talvez pelo som ensurdecedor das colunas, ou pelo ar denso com cheiro a fumo, perfumes mesclados e bebida desperdiçada no chão.

Até que tudo em redor deles parou.

Só agora ele reparara nos sapatos de salto alto pretos que lhe adornavam os pés. Céus, como ela estava perfeita! Como musa que era, passou-lhe a mão pelo rosto, descendo para a camisa entreaberta azul e acabando com um aconchego no coração dele.

- Tiveste saudades minhas.

- Porque é que paraste por aí? - a mão dela segurava a gravata solta na zona do peito moreno dele.

- Shhhh...Anda... - ela puxou-o pelo cetim da trela improvisada e começou a abrir caminho por entre a multidão na pista de dança. Ela ia à frente dele, pavoneando propositadamente cada contorno do seu traseiro perfeito. Encostou-se à parede, permitindo que os seus seios fossem a única coisa entre ele e aquele canto escuro. E começou a subir o vestido com uma mão e a desapertar o cinto dele com a outra.

- Não vamos fazer isso aqui! E se alguém vê?! - a tensão dele acumulava-se no membro que já se notava contra as calças do fato. A pergunta mostrou-se absurda quando ela invadiu a boca dele, beijando fogosamente.

- Ninguém nos vai ver! Eu sei que me queres. Eu sinto-te. Não me sentes?

O calor dela estava a enlouquecê-lo, o odor que emanavam era o gatilho para a explosão prestes a rebentar. A sensualidade dela impedia-o de pensar, os beijos eram demasiado quentes para poder arrefecer os pensamentos. De nada valia lutar contra aquela fome que os atormentava.

O fumo no ar era demasiado denso para permitir que alguém os visse e a música em decibéis ilegais permitia que ela gemesse o nome dele sem que ninguém ouvisse.

E teve-a ali. Mesmo ali, naquele canto escuro; às escondidas do mundo e aos olhos do seu coração.

- És perfeita.

- Tiveste mesmo saudades minhas.

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