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23 de outubro de 2015

146 dias

O café está cheio de gente e o cheiro a pão quente mistura-se com os perfumes das mulheres que por mim vão passando. 

Acendo outro cigarro e tento queimar o tempo bebericando o abatanado que acompanha a torrada que não vou comer. 

Perdi-a há cinco meses e a minha fome foi-se com ela. 


Imagino-a algures do outro lado da cidade, enrolada na sua camisola de lã que lhe tapa as mãos frias. Fica-lhe ainda melhor quando apanha o cabelo despreocupadamente, favorecendo aquele ar de quem leva levemente a vida no colo e que me fez precisar tanto dela. A forma como o seu sorriso condizia com os raios de sol era capaz de iluminar um quarteirão inteiro.

O toque suave das mãos dela fazia-me perder a razão e as minhas barreiras caíram quando me sussurrou pela primeira vez ao ouvido que era minha.

Passaram-se 146 dias e em todos eles lhe sinto a falta. Secretamente desejo que sinta a minha ausência também. Gosto de acreditar que lhe adoçava os dias tristes, ou que era o meu ombro que ela procurava quando o sol se escondia dos seus olhos. 

Mas a certa curva do caminho, perdi o norte do nome dela e não sabia mais como colorir os seus dias cinzentos. Certa tarde, deixei de ter a certeza de que as minhas palavras fossem a música certa para o seu pensamento livre, e soube que a tinha perdido quando lhe olhei nos olhos e me vi ausente do seu brilho habitual. 

Foram-se mais de três mil e quinhentas horas sem a ver, e nenhuma delas passa sem que a queira comigo. Sei que os dias dela são mais coloridos agora que a minha escuridão se mantém só e apenas no meu peito. E sei que o sorriso dela é agora mais tranquilo, não precisando das minhas histórias caricatas para aparecer. Sei que conto os dias todos que passam sem poder vê-la, sem lhe poder tocar ou sentir o cheiro da sua pele na minha.

Só não sei se nestes duzentos e dez mil e duzentos e quarenta e sete minutos ela foi mais feliz sem mim; não sei se a vida lhe foi mais fácil de viver ou se apenas se deixou passar por ela; e não sei se fiz bem em deixá-la ir, quando o que mais queria era tê-la por perto. 

Sei que não sei viver sem ela, e sei que perco um pedaço de mim a cada segundo que passa sem a ver...

9 comentários:

  1. adorei o texto :)
    Comecei a seguir-te ! ^^

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  2. Mais uma vez deliciei-me a ler,muito bom Cláudia, parabéns,beijinhos

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  3. Como tenho orgulho em ti e acima de tudo no que te tornas todos os dias... Mas acima de tudo mais que tudo adoro ter o privilégio de ser tua amiga... Adoro te muntooooo

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    1. Minha querida! A amizade contigo não é um privilégio, e sim uma honra! Sou abençoada por ter pessoas como tu na minha vida e que me guardam no coração. Apesar de nem sempre estarmos por perto, a amizade que nos une não morre e nunca, nunca me esqueço de ti! Também te adoro muito!!!

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