Translate

20 de março de 2015

Mulher de Fibra

Depois de tantas tentativas falhadas, resolveu consultar um especialista na clínica privada. O cenário que a rodeava na sala de espera era avassalador. Ninguém naquela sala teria menos que o dobro da idade dela. Muitos se faziam acompanhar pelos seus filhos que também já tinham cabelos brancos, e teriam também filhos seus.


Com apenas 25 anos, viu-se rodeada de um antro de incapacidade de viver, temendo que aquele fosse também o seu futuro.

A espera era cada vez mais inquieta, e quando finalmente se arrastou a coxear para a sala de consultas e falou por uma hora com o médico, a dúvida deu lugar à tristeza.

- A senhora tem fibromialgia. Sem sombra de dúvidas.

Ela ouviu o que já esperava, mas que tanto temia.

- E agora, Doutor?

- Agora, terá de aprender a lidar com a dor. Os medicamentos podem ajudá-la; mas haverá dias que nem isso lhe tirará as dores.

Ela saiu do consultório com três receitas na mala e um mar de lágrimas nos olhos.
Telefonou à sua mãe que, no meio das palavras de esperança, lamentou padecerem do mesmo mal.
Telefonou ao seu marido e chorou, soluçando o medo que tinha de ficar dependente dele.
Voltou para o trabalho e desabafou com as amigas, que lhe deram força para enfrentar a notícia.

Muitos lhe perguntam o que é que ela tem, e como é viver com a doença que não conheciam, pois não se vê que ela está doente.

Viver com fibromialgia é lutar todos os dias.

É ter um par de botas confortáveis que se adora, e não conseguir usá-las porque os tornozelos queimam.
É ter de cortar o cabelo porque está pesado para o conseguir lavar sozinha.
É desmarcar saídas com os amigos ao sábado à noite, porque a limpeza que fez à casa durante a tarde lhe causou dores insuportáveis nas costas.
É perder o controlo das emoções sem qualquer razão aparente.
É ter de pedir ajuda para as tarefas mais simples do dia-a-dia.
É acordar cansada porque não se conseguiu dormir.
É estar triste sem saber porquê; e feliz sem motivo lógico.
É esquecer-se das coisas vezes sem conta.
É não ter força de manhã para abrir uma garrafa de água.
É perder aventuras porque o corpo não aguenta a força que a mente quer ter.
É ter dores todos os dias.

Viver com fibromialgia é aprender a viver com as limitações que o corpo impõe.
É uma chapada no orgulho. Uma lição de que nada é garantido.

E é difícil viver com ela. Mais que isso, é difícil aceitá-la. E é difícil ser aceite enquanto doente.
Porque se sorri, mesmo que aquele aperto nos ombros ainda ali esteja todos os dias. E porque se faz por estar bem, mesmo que as pernas doam a cada passo que se dá.
Isso não quer dizer que não sofra ou que não doa.
Significa que ela escolheu vencer.

Escolheu ser uma mulher de fibra e lutar todos os dias!



16 comentários:

  1. Cláudia, partilhei a sua estória (um link) no blog/página de facebook Fibromialgia em PT. Se preferir que não o faça, por favor entre em contacto comigo. Grata.

    http://fibromialgiaempt.blogspot.pt/2015/03/estorias-desencantadas-mulher-de-fibra.html

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Ana! Não me importo que partilhe, muito pelo contrário! Deve haver cada vez mais sensibilização para esta doença invisível, e se eu posso ajudar com isso, é o que farei! =)

      Eliminar
  2. Cláudia tb irei partilhar, pelo menos para sensibilizar as pessoas a conhecerem adoença, eu játive cancro, sou mastectimizada àesquerda e tb não tenho qualquer complexo com isso, tenho uma hérnia discal na l4 e à 3 semanas fiz uma lesão na cervical. Ainda estou a recompor-me desta última, mas ainda não morri, estou viva e quero viver mt mais, tb tenho dores horríveis, há dias melhores outros piores, mas vivemos como podemos e tentaremos ser felizes!! Muita força é o q lhe desejo! Lina

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Infelizmente o cancro é um mal que acompanho de perto, pois as minhas duas avós lutaram contra ele. E sem dúvida alguma que, apesar de ser difícil, temos de ter força e lutar pela nossa felicidade! É o que desejo para si e para a sua família. Um abraço cheio de carinho

      Eliminar
  3. Cláudia, infelizmente também padeço dessa maldita doença que é a Fibromialgia, mas ainda há muita gente inculta e que só sabe dizer: " Isso passa, ou tens de aguentar ",, nestes momentos fico possessa e apetece-me insulta-las, mas não vale a pena responder a tanta ignorância. Alem da fibromialgia tenho problemas de coluna lombar, onde já fiz duas pequenas cirurgias e estou há espera de outra um pouco diferente. Agora imagine o dobro das dores que tenho. De manhã acordo e ás vezes para sair da cama tem de ser com a ajuda do meu marido e com uma Lágrima a escorrer-me pela cara abaixo e á noite quando me deito já cansada de um dia de trabalho a mesma Lágrima lá aparece. Tenho neste momento38 anos e um filho maravilhoso, que é por ele que eu luto todos os dias contra estas dores, apesar de certa medicação já não fazer qualquer efeito. O meu lema é: Vivo um dia de cada vez!! o resto vem por acréscimo...Beijocas e continuemos esta batalha.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O importante é nunca desistirmos e nunca - jamais! - nos culpar-mos por padecer deste mal. As suas melhoras!

      Eliminar
  4. também vou partilhar.achei linda esta sua mensagem, ainda não me foi confirmada a doença, mas tudo indica que sim,como disse a Sandra Rocha, também fiz 2 cirurgias á coluna e estou á espera de outra, nam a morfina me vale,mas temos que aguentar






    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Ana Paula, espero que já se encontre melhor! Um beijinho com carinho

      Eliminar
  5. Olá Cláudia.
    Sou filha de uma valente mulher de 55 anos com fibromialgia. Há cerca de 10 anos que foi diagnosticada, depois de meses no hospital. Desde essa altura tenho assistido a minha mãe definhar e deixar de ser aquela mulher cheia de vida a que eu estava habituada. O sofrimento que assisto tem sido brutal e a impotência por vezes consome-me. Nem consigo imaginar como ela lá vai conseguindo ir trabalhar todos os dias... Graças a todos os anjinhos que existem ela tem andado numa fase melhor e é fantástico vê-la mais animada. Tenho esperança que rapidamente esta doença possa ser devidamente reconhecida.
    Beijinhos,
    Rita C.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Rita. A minha mãe também sofre muito com esta doença, infelizmente somando a outras como a espondilite anquilosante e sem dúvida que ela é o meu maior exemplo de garra e força. Muitas pessoas não se entendem o quão esta doença é limitativa. Um beijo é bem haja para as duas!

      Eliminar
  6. Bom diaa todas as mulheres de fibra, tenho 45 anos e a mais ao menos dez anos sofro com a fibromialgia, já passei por várias fases, mas sempre surge algo diferente no nosso corpo, graças a Deus a um ano, to fazendo um tratamento com um reumatologista, tomo medicamentos manipulados e um antidepressivo bem fraco pra tirar a ansiedade e dormir, to bem melhor, faço uma hora de caminhada todos os dias, mas as dores nas pernas continuam, quando faxino a casa fico uns dois dias muito mal, mas vou vivendo com fé em Deus pra que essa doença seja reconhecida e testável, bjsss

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não, a fibromialgia não tem cura. No entanto, há várias formas (medicamentosas ou não, nomeadamente terapia comportamental) de aliviar os sintomas e controlar minimamente o mau estar do doente.

      Pode saber mais em:
      http://www.apdf.com.pt/o_que_e.php

      Eliminar
  7. Bom diaa todas as mulheres de fibra, tenho 45 anos e a mais ao menos dez anos sofro com a fibromialgia, já passei por várias fases, mas sempre surge algo diferente no nosso corpo, graças a Deus a um ano, to fazendo um tratamento com um reumatologista, tomo medicamentos manipulados e um antidepressivo bem fraco pra tirar a ansiedade e dormir, to bem melhor, faço uma hora de caminhada todos os dias, mas as dores nas pernas continuam, quando faxino a casa fico uns dois dias muito mal, mas vou vivendo com fé em Deus pra que essa doença seja reconhecida e testável, bjsss

    ResponderEliminar
  8. Tal como tantas outras,dias e dias com dores,e depois os comentários irónicos de ...tens tão boa cara...o pior é o resto, aquilo que sinto no dia a dia. Tomei a liberdadade de partilhar, obrigado por escrever tudo o que vai no meu pensamento e não conseguia dizer.

    ResponderEliminar