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12 de janeiro de 2015

Memórias


Era verão, e a noite que se adivinhava quente estava decorada com milhões de estrelas brilhantes.

Vagarosamente, sentou-se no baloiço do alpendre, e folheou o álbum de fotografias.


Iluminada pela lua cheia que invejava o branco imaculado do seu vestido de noiva retratado, ela sorria para as pequenas imagens, como se as revivesse, uma a uma.

Com as mão enrugadas, segurou as lembranças perto do coração e comparou a visão reflectida na janela com as imagens que vira...

O cabelo que outrora fora tão negro quanto o céu, era agora branco como a lua, e emoldurava o rosto envelhecido. Os olhos que naquele retrato estavam cheios de vida, mostravam-se agora cansados e com um brilho choroso. Um brilho que dizia ter mil memórias para contar. O sorriso contagiante que partilhava com o seu marido há 60 anos atrás, havia desaparecido quando ele partira para longe dela. Ele fora-lhe roubado, sem dó nem piedade.

Estava sozinha, velha e cansada. Mas estava feliz.

Estava orgulhosa por ter sido uma boa esposa, dedicada e honesta. Tinha cumprido o seu dever enquanto mulher, e tinha feito o seu marido feliz. Mas quis a vida que ele partisse. Quis a morte tê-lo como troféu. E agora, restavam-lhe apenas as memórias de uma vida completa e partilhada com o amor da sua vida.

Não, ela não estava triste. Ela tivera a felicidade de casar com o seu grande amor, e tivera a oportunidade de viver uma vida inteira com ele.

E naquela noite de verão, com a brisa a beijar-lhe o rosto cansado, adormeceu e sonhou com ele, esperando encontrá-lo do outro lado da vida...

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