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4 de maio de 2016

Espécie de amor

Eu não te amo, mas olhei para ti e quis que fosses minha. Chama-lhe capricho, vontade ou até vazio a preencher com amores fugazes por ausência de amor próprio.

Não me importo. É que achei-te uma mulher rara, e por isso te roubei.


Convenci-te a ceder aos meus encantos e consumi-te até que nada de ti restasse. Deixei que confiasses no meu sorriso para que sorrisses também. Era mais fácil trazer-te para casa quando te conseguia arrancar o sorriso e pouco mais que isso me exigias antes de te arrancar a roupa também. "Um beijo", e nada mais. 

Nunca foste de pedir muito; desde que eu te fosse alimentando falsamente as esperanças e fingindo-me interessado no que se passava à tua volta e não apenas nas tuas calças, estava tudo bem entre nós. E assim me habituei a esta espécie de amor em quid pro quo, sem me aperceber que davas mais do teu quid do que eu alguma vez darei do meu quo

É que tu és... Tu! E eu não sei lidar com pessoas como tu, assim presentes. E preocupadas. E que amam. Que amam pessoas assim como eu, ausentes. E frias. E sem escrúpulos.

Odeio pessoas assim como tu; e como eu. Odeio a tua forma graciosa de ver o lado bom da vida, porque me faz duvidar das minhas incertezas constantes. E não gosto que me fales todos os dias, porque me lembras que posso ser melhor do que aquilo que quero. Detesto quando te armas em forte, mesmo quando morres de dores todos os dias; porque me lembras da minha cobardia face às fraquezas que me atropelam ocasionalmente.

Sim, odeio muitas coisas em ti. Mas, à parte de tudo isso, preciso-te mais que à própria vida.
Porque tudo o que eu não sou, vive na pessoa que és. E talvez por isso te queira tanto.
Talvez sejas tu a minha espécie de amor. 

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