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6 de abril de 2016

Uma lembrança de ti

Acordo só e com a luz da manhã que me invade o quarto ausente de ti. 

A cama parece-me demasiado grande, a janela parece demasiado aberta, e o sol brilha demasiado para os meus olhos cansados de enfrentar noites também essas demasiado claras. 


Confesso que não me lembro de ceder ao sono, mas sei que foste tu quem me manteve acordada. Ou pelo menos, uma lembrança de ti.

Foste o meu último pensamento antes de adormecer. Lembrei-me de quando adormecias enrolado no meu corpo e de como todos os meus pesadelos desapareciam quando me embalavas até de manhã. Lembro-me de chegar a casa vinda do trabalho aborrecida e cansada e, mesmo assim, deitar-me sempre com um sorriso nos lábios e o coração alegre por te ter comigo, todos os dias. Tinhas aquele poder quase mágico de fazer desaparecer tudo o que não me deixava dormir em paz. 

Talvez por isso me lembre de ti quando acordo. Lembro-me do quão era difícil ter de deixar o teu colo na cama e enfrentar mais um dia longe do teu calor. Lembro-me da correria que era todas as manhãs, porque deixávamos a nossa nudez render-se aos lençóis por mais tempo do que nos era permitido. Eu acabava por me calçar na cozinha enquanto o café arrefecia, e tu escovavas os dentes pela casa, à procura da gravata que melhor ficasse na camisa passada à pressa.

Mas hoje chegou o dia em que as correrias foram rápidas demais. Chegou a manhã em que o café frio não me aqueceu o suficiente para enfrentar os dias sem saber de ti.

Mas hoje não estás aqui; e eu acordo só e com a luz da manhã que me invade o quarto ausente de tudo o que fomos.

Hoje, resta apenas uma lembrança de ti.

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