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16 de março de 2016

Fundamentalidade

Convidei-te para um café na minha casa, sabendo que acabaríamos despidos. 

Abri-te a porta com o meu falso ar desinteressado, e beijei-te suavemente os lábios, atiçando ainda mais a vontade de te querer.


Não te acompanhei à sala, porque te sei como parte da casa. Curioso é que não vives comigo, mas sinto-te em mim todos os dias. E tu... Tu tens a graça inigualável de quem não se enquadra em lado algum, e por isso esperaste de pé que eu trouxesse os cafés. Falavas de qualquer coisa que te tinha irritado, com maldições e gargalhadas pelo meio, mexendo os braços e despenteando o cabelo.

Acredito que foi essa tua singularidade que me fez apaixonar por cada pedaço de ti. 

Sentei-me no sofá e deixei que a chávena arrefecesse na mesa, e antes que pudesses pousar a mala, puxei-te pela cintura e sentei-te no meu colo, deixando que os teus braços envolvessem o meu pescoço. Enquanto os cafés ficava esquecidos, percebi que era só de ti que eu precisava. Precisava de te sentir comigo e em mim. Porque ter-te por perto cura qualquer sombra que me escureça os dias. 

Rodei-te para mim, encostando a minha vontade ao teu desejo. O calor que te decorava o rosto pedia-me descaradamente que te tivesse ali no sofá, e os beijos que a tua boca me pedia eram apenas um lembrete da tua doce loucura. Depressa as palavras cederam aos beijos esfomeados, e tropeçando pelo caminho, acabámos na cama despidos de roupa e de segredos. 

E naquele instante, amei-te demais. Sabia-te triste e cansada, e invariavelmente preocupada comigo. Quis possuir-te, e sei que também tu me querias levar ao limite do humanamente suportável. Mas tu precisavas de amor. Daquele amor que fica aninhado nos lençóis e que não desaparece no dia seguinte. De um amor isento de medos e fantasmas, e cheio de esperanças e certezas. E eu não sirvo para ti.

Mas eu amo-te! Sou egoísta porque te amo, mesmo que não te sirva. Amo-te e preciso-te todos os dias, mesmo que não sejas minha. Amo-te ao ponto de ser difícil enfrentar os dias sem saber por onde andas. Amo-te sem precedente igual e sem o conseguir admitir. E por te amar tanto, sei que não te posso ter. 

E tu, meu amor, tens uma forma tão especial de amar... Amas-me até quando eu próprio não me reconheço. Amas-me, mesmo sabendo que nunca te poderei dar amor.

E só porque me amas tanto, deixo que me tenhas quando quiseres. 

6 comentários:

  1. Que agradável, conciso simples e envolvente, mas não demasiado lamechas nem erótico, durante toda a leitura imagina -se o cenário, juntamente com todas as cores e sabores. Bem estruturado, pontuado e nao excessivamente extenso. Muitos parabéns querida :*

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