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17 de junho de 2015

Ponto de luz

Era uma noite de Junho e a algazarra das festas da aldeia era notória. Todas as ruas estavam decoradas com fitas brilhantes de todas as cores.

O aroma inconfundível a manjericos misturava-se com o cheiro apetitoso das sardinhas, e a música popular ecoava do palco com pedidos de um balão ao São João.

Contrariamente ao dia quente que convidara a vestir uma camisa de algodão, a noite estava fria e o casaco de ganga passou de atado à cintura para os ombros encolhidos. A relva molhada reflectia o brilho do céu estrelado e ela sentiu o peito a ficar apertado, deixando que a tristeza a incomodasse por momentos.

Sentou-se na relva fria, sem se importar que a roupa ficasse molhada, molhando também o rosto com as lágrimas carregadas de saudade. Olhou para o céu, recordando o carinho do seu pai e apertou os joelhos perto do coração. E ali, naquele exílio da confusão, contemplou a estrela mais brilhante do céu. Fechou os olhos e apenas uma pessoa invadiu os seus pensamentos.

"Passou um ano que partiste, meu pai. Mas não passa um dia que não me lembre de ti. Já não estás ao meu lado, mas sei que velas por mim. Perdi-te para um outro mundo, onde esperas por mim na estrela mais brilhante do céu! 

Sinto tanto a tua falta, meu pai! E a tua neta também... Quando partiste, levaste também um pouco de nós, mas sei que o teu amor permanece nos nossos corações e que por isso ainda nos acompanhas. Um dia, irei abraçar-te de novo. E nesse dia, nunca mais te largarei!"

Respondendo ao seu desabafo, o céu presenteou Bela com uma maravilhosa estrela cadente, com um brilho tão ou mais brilhante que os olhos do seu pai. Limpando as lágrimas à manga do casaco, Bela despediu-se da estrela, sabendo que mesmo fora do alcance dos seus olhos, o pai iria sempre olhar por ela.

Naquela noite, Bela dançou com a filha e deu a provar sardinhas ao neto. Cantou com as amigas e riu com o irmão, brindando ao pai que nunca será esquecido.

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