Há muito, muito tempo, eu era livre.
Livre de escolher o que queria e quem queria. E por isso te escolhi a ti. Eras tu quem eu queria ter por perto e era contigo que eu queria voar.
Lembro-me dos nossos finais de tarde a ver o pôr-do-sol na praia e de como ficávamos sentados na areia horas a fio a olhar o horizonte.
Arrastavas a tua asa para mim e envolvias o meu corpo num abraço tão apertado que sentia os meus pedaços a unirem-se de novo. E esse aperto era bom.
Até uma determinada hora.
Quando dei por mim, o meu canto era já um silêncio que me impunhas e o nosso ninho era apenas uma gaiola da qual não me deixavas sair. O abraço que nos unira naqueles finais de tarde era só uma recordação enevoada que dissimulava a tua obsessão. Querias-me só para ti e por isso enclausuraste-me, sem nunca conseguires perceber que eu não nasci para ser prisioneira.
Aquilo que dizias ser amor, era só e apenas a tua necessidade de me ter como posse. E eu não nasci para ser de ninguém. Eu nasci para voar! E por isso abandonei o teu abraço e fugi, atirando ao mar a anilha que me impuseste.
As correntes que me adornavam os pés dissiparam-se nas ondas. E as asas que um dia me amarraste abraçam agora a brisa do mar.
Hoje sou livre e o horizonte que um dia desejámos ser nosso é o limite. Vou voar e tocar o céu, deixando na areia da praia todas as cordas que me impediam de viver.
Vou voar à procura de ser feliz! E nunca, nunca mais as minhas asas serão de ninguém!
Sem comentários:
Enviar um comentário