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4 de janeiro de 2016

Despida

Estou aqui.

Consegues ver-me? Assim nua de roupas e despida de segredos? Consegues perceber estes traços do corpo que sente tanto a tua falta? 

Passou demasiado tempo... Tanto, que perdi a conta aos dias que passaram em que a minha existência nada soube além da saudade de ti. Saudade das tuas mãos a tocar-me a pele fria e branca.


Saudade de ver as roupas espalhadas no chão, delineando um caminho desviado e vagabundo. Um caminho que me parecia tão seguro e, no entanto, tão incerto. 

É verdade que te conheci com esse dom de saber despir-me as roupas em pouco tempo e com poucas palavras. Mas acabaste por me despir muito mais do que apenas o tecido que paguei para me esconder o corpo. Sabias olhar para mim e ver além do casaco que me camufla o frio que teima em habitar a minha incerteza de te merecer. Despias-me a camisa vermelha, e com ela tiravas-me também a vergonha das cicatrizes que me adornam o peito. 

E é disso que tenho saudades... 
Saudades que me dispas, mesmo que não me tires a roupa.

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