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22 de dezembro de 2015

Dias curtos

Tenho frio.
Envolvo-me na manta, desejando que fosse o teu abraço, e tento desesperadamente aquecer-me com um copo de vinho. Mas a neve que cai lá fora gela-me o coração. Assim como tu o gelaste no dia que foste embora para nunca mais voltar...


Ligo o rádio, na esperança vã que a música cuspida pelo aparelho consiga camuflar os gritos silenciosos que pairam na minha cabeça e que assombram as minhas recordações. Tento lembrar-me do teu rosto, mas a dor das palavras que disseste tolda-me os sentidos; e bebo mais um pouco de vinho. Dizem na rádio que hoje é o primeiro dia de inverno, mas confesso que todos os dias me parecem curtos e ausentes de calor quando tu não estás por perto. 

Sei que ontem fez mais frio que hoje e, por isso, quis aquecer-me sem medidas. Não me lembro de adormecer; mas lembro-me que já era noite escura. Tão escura como ficaram os dias que passo sem te ver... Foi o dia mais curto do ano; mas igual a tantos outros desde que me deixaste aqui. 

Frio, escuro e pequeno. 

Fui eu que te dei o bilhete de ida. Não deixei que a tua primavera colorida invadisse o meu inverno solitário. E aceito por isso o meu castigo, passando pelo resto dos meus dias no gelo que ficou. Se o mundo fosse perfeitamente injusto, os dias sem ti nunca veriam o seu fim chegar. Mas os dias simplesmente deixaram de ser dias e as noites deixaram de ser noites...

Sem ti, o tempo perde a medida e eu apenas lhe perco a noção. Tento manter a sanidade nesta tômbola de sobrevivência, deixando-me passar pelo tempo, sem perceber que também ele passa por  mim. E vai levando de mim o pouco do que deixaste para trás, sobrando apenas o que fui antes de te ter conhecido.

Frio, escuro e pequeno.




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