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12 de maio de 2015

Para sempre comigo

Entraste na minha vida discretamente. Não me lembro ao certo quando foi, mas sei que a primeira vez que dei por ti ainda estudava no liceu. No início a timidez apoderava-se de ti e mal dava pela tua presença, mas desde que me magoei no joelho senti que irias estar sempre comigo.

Apesar dos anos em que poucas oportunidades houve de estarmos juntos, fazias com que cada momento que passássemos fosse inesquecível.

Até que, há dois anos, decidiste ir beber um copo comigo. Lembro-me que começaste por me desafiar a aguentar as noitadas contigo (e como elas custavam!). Dançávamos até de manhã e chegávamos a casa com a sensação de que um camião nos tinha passado por cima. Nas primeiras noites, deitavas-te comigo na cama, mas de manhã já não estavas... E quase que sentia alívio porque sabia que aquela ressaca apenas se repetiria dali a uma semana. 

Este ano, comemos a ceia de Natal à mesma mesa. Sem que me apercebesse, tornaste-te uma presença constante na minha vida. Começaste a deitar-te comigo e, de manhã, ainda sinto o teu peso em cima de mim. Quando saímos à noite, seja por uma hora ou até de manhã, sei que a exaustão será uma consequência. Os passeios que dou no parque contigo parecem mais longos do que na realidade são. Dormir tornou-se praticamente impossível, porque vejo as horas todas a passar quando te lembras de me tirar o sono.

Eu nunca me esqueço de ti... 
Como poderia?! Fazes questão de me lembrar todos os dias que existes... 

Mas... Posso pedir-te um favor? Assim pequenino?
Esquece-te de mim! Esquece que eu existo! Ignora o meu corpo, ao menos por um dia... Abandona a minha cabeça, por favor! Deixa-me viver sem que atormentes cada passo que dou. Eu não pedi que viesses morar comigo, não te quero sentir, não te quero conhecer melhor e muito menos quero ficar contigo para o resto da vida! 

Deixa-me! Por favor... Eu só quero viver a minha vida em paz, sem ter vergonha de ti; vergonha do que sou contigo. Não percebes que ninguém te vê? Ninguém se importa que estejas comigo porque só vêm o quão miserável me fazes? Não vês que meio mundo te acha uma mentira? E que da outra metade que acredita em mim, apenas meia dúzia está verdadeiramente do meu lado?

Mas eu não os culpo; eles não sabem... 
Não sabem o que é ter de viver contigo, como uma sombra que pesa tonelada e meia em cima dos meus ombros. Não sabem a humilhação que é não conseguir atar os próprios sapatos, ou lavar os pratos do almoço só porque te apetece agarrar os meus braços. Não sabem o que é o cansaço depois de tomarmos banho, ou as dores com que fico na anca por estar uma hora no sofá a ver televisão contigo. 

Eles não sabem...
Como podiam eles saber? Como podem eles acreditar em algo que não se vê? Como podem eles crer apenas na minha palavra? Credo, quase me sinto o Cristo a pregar sobre o seu Pai! Mas não... Sou apenas doente de uma patologia que não se vê. Tenho apenas uma doença crónica que me rouba um pouco de mim todos os dias.

Sou apenas eu...
Eu e tu... Todos os dias...
E todos os dias eu te tenho comigo; todos os dias luto contra ti! Nem sempre venço, é verdade... Mas sabes aquela meia dúzia de pessoas que está do meu lado? São elas que me dão força para batalhar todos os dias. São elas que remendam os danos que tu me causas quando perco contra ti. E é por elas que nunca desisto; é por elas que todos os dias tento vencer.
E um dia vou conseguir provar ao mundo que tu existes! Um dia, vencerei esta guerra!







4 comentários:

  1. Texto emocionante!!
    Nunca pares de lutar pois a luta dá força para enfrentar a vida e um dia vais ganhar.

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    1. Obrigada amigo Hilário! És também um exemplo de força e coragem!

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  2. Cláudia vai continua sempre em frente e vai transmitindo a todos o teu testemunho e pela forma como escreves sabes que é impossível as lágrimas não surgirem!Beijinhos

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