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16 de fevereiro de 2015

Perdida no mar

Com vagar suficiente até que fervesse a água para o chá de tília, sentou-se na cadeira de baloiço perto da janela e contemplou o azul distante do mar que se emaranhava com o céu. Não conseguia recordar-se da última vez que os seus pés tinham sentido as borbulhas das ondas, e as cócegas que a areia branca lhe provocava eram já uma sensação distante.


A praia era o lugar preferido deles.

Todas as tardes passeavam à beira-mar e, quando a sensatez não ocupava as suas mentes, permitiam-se dar mergulhos ao pôr-do-sol. O mar era o confidente do amor que os unia.

Mas ele ficou de mal com o mar: ou o mar ficara de mal com ele.

Pelo menos, foi isso que ele percebeu no dia em que viu a sua mulher pela última vez. No dia em que, como tantas outras vezes, ela mergulhou naquela imensidão azul. No dia em que ele teve medo de desafiar as ondas. No dia que ela não voltou a aparecer.

Ele procurou-a tantas vezes quantas marés houve desde que a perdera. O mar roubara-lhe a sua mulher, e ele deixara. A culpa atormentava-o e no pranto daquele fim de tarde, deixou-se adormecer pelo cansaço da tristeza, dando por si sem rumo num mar de pesadelos.

- Meu anjo! Eu tentei... Sabes como eu tentei, não sabes? Procuro-te todos os dias! E irei procurar-te até que o mar me leve também. Mas eu perdi-te. Eu deixei que te perdesses e perdi o meu rumo sem ti! Eu não tenho perdão...


- Eu não estou perdida, meu amor. E sei como estás cansado de me procurar. Não procures mais, porque estou mesmo aqui, a teu lado. E estarei sempre. Sentes isto? Sou eu que te abraço sempre que adormeces. Sentes o frio na barriga quando entras no mar? Sou eu que te protejo. Perdoa-te a ti próprio, meu amor. Eu nada tenho a perdoar-te.


A chaleira começou a ferver e a saída apertada do vapor era audível em todo o prédio. Mas ele não quis saber. Ele encontrara-a finalmente. E continuou a sonhar, sentindo a areia quente nos pés, o sol acolhedor no rosto e o abraço da sua eterna e querida mulher que o mar lhe trouxera de volta.

2 comentários:

  1. Que texto bonito!! Segui o blog, espero ver-te pelo meu em www.mariajoaogc.blogspot.com

    Beijinhos,
    Maria

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    1. Obrigada querida! Estou já a seguir o seu blog também =) espero poder continuar a agradar com os meus textos.

      Beijinhos

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