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2 de fevereiro de 2015

Acasos

Naquele dia, decidiu vestir uns calções tom de café com leite e uma camisola de alças largas que mostrava provocadoramente o seu sensual ombro tatuado. A pele reflectia o sol que a acompanhara na rua e o chapéu de aba larga igualava o tom vermelho da camisola.

Ela chegou ao café, cuidadosamente descontraída, e sentou-se na mesa do costume a ler as curiosidades do mundo no jornal.


Ele passou por ela e, num primeiro instante, a troca de olhares foi mais do que óbvia. Algo a cativou, mas nem ela soube o quê.

Ele não era bonito, mas nem por isso era feio. O cabelo farto simetricamente desgrenhado era negro como a noite, e os olhos cor de safira contrastavam com o tom caramelo da sua pele. Era elegante, e apesar do estilo casual, caminhava com confiança invejável, transpirando o gigantismo do seu ego.

"Cheguei, e sei que repararam em mim"

Exceptuando a moça tímida e o intrigante homem que acabara de entrar, o café mostrava uma ausência de clientes notória. Ela estava sozinha numa mesa, como prometera a si própria, e ele sozinho numa outra mesa em frente a ela se sentou... 

-Zé, uma mini?

-Não Zé, traz-me um café... E a menina vai querer o quê?

Por segundos, pensou olhar em volta expressando no rosto um "estás a falar comigo?", mas antes que tivesse tempo de qualquer reacção, ele interrompe o seu tolo pensamento com malícia no discurso.

- Sim, é para ti, olhos azuis... - aqueles olhos verdes eram-lhe familiares. Mas de onde?
-Posso acompanhar o café também. Já agora, tem lume? - com dois isqueiros na mala, foi a pior desculpa e o maior cliché que poderia ter encontrado para disfarçar o nervosismo.
-Não costumas vir aqui pois não? - esticou o isqueiro e acendeu-lhe o cigarro. Não pôde deixar de reparar na boca deliciosamente bem desenhada que lhe conferia um sorriso contagiante.
-Há muito tempo atrás, vinha mais vezes do que devia, e menos do que gostaria. E tu és…
-Rodrigo... Prazer...
-Helena, muito gosto. O prazer terá de ficar para depois.

Com um sorriso malandro, estendeu-lhe a mão na tentativa de concluir a apresentação cordialmente. Mas, sem que ela esperasse, ele levou a mão dela aos seus lábios perfeitos, e absolutamente desejáveis, e beijou-a doce e calmamente. 

-Garantidamente, querida. 

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