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27 de junho de 2016

Pedaços


É só trabalho. É só um jantar. São só umas horas. Volto para ti ainda esta noite.

Eu sei que voltas. Mas também sei que voltarás com menos um pedaço de ti. Sei que te vais perder no meio das conversas intelectuais e dos risos escondidos. 

Sei que a queres. Quem não quereria?


Sei que a queres desde que a viste, toda elegante e vistosa no seu vestido curto e justo. Quiseste-a ainda mais quando a conheceste e te deixaste enfeitiçar pela voz doce e bonita que ela tem. Sei-o de cor, porque senti o tremor da tua voz. O mesmo tremor com que tantas vezes chamaste por mim.

Eu não a quero.

Queres. Já devias saber que não me consegues esconder nada. Muito menos essa fome com que também já olhaste para mim. Mas eu perdoo-te. Perdoo esse desejo que deixaste crescer a cada momento que te negaste a sucumbir aos encantos dela. Perdoo o brilho que deixas escapar dos teus olhos quando falas dos projectos que surgem nos vossos caminhos. Perdoo que digas o nome dela com um tom diferente, como se fosse pecado. Perdoo que me escondas o quanto a querias provar.

Ela não me quer.

Sei que te tentas convencer disso. Sei que te seria tão mais fácil acreditar nisso, do que acreditar que és quase perfeito. Sei-te meu até ao fim dos dias. Mas sei-te também do mundo que procuras tão apaixonadamente conquistar. 

Não vai acontecer nada. Prometo.

Não faças promessas que não podes cumprir. Prefiro assim. Só te peço que não me mintas. Não te perdoo se me mentires. Não quero segredos entre nós. É que eu também já usei vestidos curtos e justos. Também eu te convidei para jantar, acabando por partilhar a sobremesa na tua cama. Só não contava amar-te tanto.

Isto é diferente. Tu foste diferente.

Não aches que o meu amor por ti me faz acreditar em tudo o que te sai da boca. Não me diminuas a esse ponto. Não me apaixonei pelas tuas palavras doces e vazias de intenção. 

Tenho de ir... Mas prometo voltar.

Não te demores. Não saias por demasiado tempo. Demora-te apenas o suficiente para que sinta a tua falta, e um pouco antes de sentires a falta de alguém na tua cama.

Anda, volta para mim. Estou a ficar doente ao imaginar-te na cama com ela. Não quero olhar para ti e ainda ver os braços dela agarrados ao teu pescoço. Não quero abraçar-te e ainda sentir o cheiro de um perfume que não é o teu na camisa que te ofereci. Não quero sentir os teus lábios gretados pelos beijos que ela te roubou. 

Volta para mim.
Inteiro, por favor...


2 comentários:

  1. Obrigado por me fazeres manter vivo o sonho. Não sei se as tuas estórias se baseiam em factos vividos ou se é "apenas" fruto da tua imaginação, mas eu identifico me muito com aquilo que escreves. Não me passava pela cabeça ser possível acontecer até o sentir na pele. E nesse momento o castelo desmoronou se. A minha vida nunca mais foi a mesma desde que ela decidiu tomar outro rumo. Mas o sonho mantém se vivo dentro de mim. Obrigado

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    1. Tudo o que escrevo tem um pouco de mim, um pouco dos outros e um pouco de imaginação. O que me inspira é demasiado vasto para descrever... Uma música, um cheiro, uma memória, um sonho, uma pessoa, um gesto... Agradeço as suas palavras. Bem haja!

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