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17 de junho de 2016

E então ficámos três

Sou pessoa que gosta de tempos solitários. Gosto de ficar sozinha com o barulho dos meus pensamentos, sentar-me no miradouro a contemplar o Tejo inundado de recordações, jantar sozinha a ler um livro e nem me aperceber que a comida ficou fria.

Mas não sou, e nunca fui, fã da solidão.



E desde pequena que vivo nessa ambiguidade. Lembro-me de brincar sozinha, com as minhas bonecas e na minha casa da Barbie. Mas a certa altura, falar para as bonecas começou a ser enfadonho e lembro-me que pedi uma companhia para brincar. Peço-te desculpa mana, mas não me lembro de muita coisa desse tempo. Sei apenas que te queria muito, isso nunca esqueço. E lembro-me de quando nasceste: tão pequenina, tão frágil e tão perfeita. Amei-te assim que senti o teu pontapé na minha mãozinha pequena.

É engraçado que eu até nem precisava de ti, mas queria-te tanto! Queria uma menina igual a mim para brincar, vestir de princesa e ceder aos meus caprichos de irmã mais velha. Tanto te pedi que te tive. Adorava ver-te dormir, sorrir e de cantar para ti. Não me lembro de te ouvir chorar, como dizem que tanto choram os bebés. Não sei se eras uma bebé que não chorava, ou se apenas tinha os meus ouvidos cheios de amor a abafar as tuas birras. 

Mas cresceste tanto! Abençoaste-me com o teu amor genuíno, invulgar nas pessoas da tua idade. E nem sei como te dizer o quão feliz me deixas ao presentear-me com uma sobrinha. Também a amei assim que senti o seu pontapé na minha mão já crescida. E mal posso esperar por tê-la no colo.

E percebo que sou uma pessoa mais sortuda que a grande maioria. Porque afinal seremos três! Eu, tu e o mano que chegará!

Olá, meu pequeno! Ora que grande surpresa tu me saíste! E eu estou à tua espera há tanto tempo que quase não me lembrava de ti. Mas não te preocupes, pois serás parte de nós também.

Apesar de mais velha e cansada, terei sempre coração para a família. Mas confesso que não te quis. Melhor dizendo, confesso que não foste um desejo infantil de contrariar a solidão. Mas foste (e és) preciso. Precisamos de ti mano, mais do que possas imaginar. Os teus pais precisam de ti. Todos precisamos que chegues de mansinho e ilumines os nossos caminhos. Assim como a mana iluminou o meu! Sei que é muita pressão, mas és sangue do nosso sangue, e sei que aguentarás o desafio.

É que eu preciso de ti. Preciso de voltar a segurar nos braços um mundo, uma vida e mil emoções e saber que estou à altura. Preciso que me mostres que, mesmo mais velha e cansada, ainda sou capaz de amar como amei em criança.

Sou portanto, uma pessoa abençoada. Tive uma irmã em criança e terei um irmão em adulta. Não é qualquer um que tem a sorte de reviver tal emoção 27 anos mais tarde. Terei mais maturidade, mais consciência e, por isso, sei que será diferente. Não poderei brincar tanto contigo, mas saberei lidar melhor com as tuas preocupações. Não estarei contigo nas aventuras como estive com a nossa mana, mas vou ter maturidade para te mostrar o que está errado. Não vou poder andar a correr atrás de ti no jogo da apanhada, mas vou poder fazer fortes verdadeiros para ti, e não apenas de lençóis. Não verás o Rei Leão ou os Aristogatos connosco no cinema, mas poderei levar-te a ver um filme na grande tela sem que o pai tenha de faltar ao trabalho.

Tudo na vida tem um lado bom e um lado mau.
Mas vocês são o meu lado melhor.

Um dia fui só eu.
Depois fomos duas.
E então ficámos três!

Melhor é (quase) impossível...

Para os meus irmãos, as melhores partes de mim

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