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25 de setembro de 2015

Nem com ele, nem sem ela



Ela ama-o. Ele não sabe viver sem ela.
Ela deita-se a pensar nele. Ele lembra-se dela assim que acorda.
Ela chora, e ele sabe-o de longe. 
Ele zanga-se e ela lê a sua raiva nas palavras.
Ela sofre, e ele sente as dores no seu corpo. Ele está feliz, e ela sorri.



Não conseguem viver um sem o outro, mas é-lhes impossível co-existir no espaço-tempo presente. Nasceram em épocas diferentes, conheceram-se no lugar certo, mas amaram no tempo errado. E era o tempo errado porque ele não estava vazio o suficiente para se deixar inundar pela luz que ela trazia. E ela não tinha forças suficientes para projectar a sua luz na imensidão de trevas que ele vivia.

Ela precisa dele todos os dias, como se o ar que lhe enche o peito fosse inspirado por ele. Ele vive-a todos os dias, como se a sua razão de ser passasse pela mente dela. Estão ligados por fios, cordas e cordões invisíveis, irrefutáveis e indestrutíveis.

A existência de um termina onde o outro começa a ser. 

Quase me fazem lembrar aquele jogo em que uma pequena (mas extremamente resistente) bola de borracha se prende a uma raquete de madeira por um elástico. E quem brinca com tal brinquedo bate, bate e bate... E a pequena bola ali anda, para trás e para diante, tal e qual a moça que ele tanto afasta, mas que volta sempre para os braços dele.

A raquete bate na bola; como ele impulsiona a moça ... 
A bola reage e foge tanto quanto o elástico deixa; como a moça se afasta e se mantém longe tanto quanto o seu coração aguenta.
Mas a raquete (aquela raquete específica) não funciona sem a bola (aquela bola pequena e resistente); e ele não sabe viver sem ela, nem ela sem ele.

E, por isso, a bola, depois de atingir a sua distância máxima, volta para trás e bate novamente na raquete. Vai batendo, batendo, batendo...
Até que alguém se cansa de brincar, ou se parte o brinquedo.

E a moça, depois de atingir o seu limite de distanciamento máximo, volta novamente para os braços dele. Vai e vem, vai e vem...
Até que alguém se cansa de caminhadas infrutíferas, ou se partem os corações.

E um dia acaba-se a brincadeira.

Um dia, aqueles fios, cordas e cordões invisíveis, irrefutáveis e indestrutíveis que fomentam a união deles, partem-se.

Acaba-se a brincadeira.

Ficam duas partes partidas, sem utilidade e sem razão para continuar a existir.

Não souberam brincar, e partiram o que não se podia partir.


2 comentários:

  1. Obrigada por esta história linda, bem real, apesar de o final não ser como num conto de fadas, tal como a vida!
    Beijinhos Cláudia

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    1. Por isso são "estórias desencantadas" =)
      Obrigada pelas suas palavras. Beijos e bem haja!

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