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28 de setembro de 2015

Mea Culpa

Culpei-me pela tua partida.

Acusei-me de ter desistido de ti e de nós. Fomos morrendo e responsabilizei-me por isso. Ficámos perdidos, sem rumo e sem sentido e nem percebemos que o fim chegara. Pareceu-me um fim tão fácil, que julguei até nem ter existido um início. 

Mas a verdade é que me cansei.


Cansei-me de te pedir para ficar, quando no fundo sabia que eras um nómada. Queria que ficasses comigo, mas os meus braços soavam-te a prisão e foi-te mais fácil bater com a porta. Seguiste o rumo do vento e levaste contigo a esperança que tinha em ti. Gostava que tivesses percebido que os meus braços estavam ali só para te segurar enquanto quisesses, e não para te prender contra a tua vontade.

Cansei-me de desempenhar o papel secundário na tua vida, quando no fundo desejei só e apenas que me reconhecesses como parte dela. Queria poder aparecer num improviso, mas as minhas cenas nesta peça de teatro estavam guardadas no livro de rascunhos que escondeste na gaveta do móvel da sala. Gostava que tivesses percebido que o nosso capítulo ainda não estava escrito, e que te cabia a ti pegar na minha mão e começar a escrever.

Cansei-me de forçar o teu sorriso, quando no fundo sabia não ser motivo suficiente para tal manifestação. Queria ter a coragem para largar tudo o que tinha, mas a pessoa que sou impediu-me de ir contigo para o incerto. Gostava que tivesses percebido que a única coisa que queria como certa era a tua presença nos meus dias.

Cansei-me de ouvir o meu coração que tanto me implorou para aguentar mais um dia, quando no fundo a minha cabeça sabia que eu já estava morta. Queria que deixasses de viver nessa penumbra em que te encontrei e que te sentisses em segurança comigo. Gostava que tivesses percebido que também a minha luz precisava de ti para suportar os meus medos.

Cansei-me de ser forte por mim, por ti e por nós. Julguei ter forças para suportar o meu mundo e o teu, quando no fundo a minha força eras tu. Queria ter-te protegido de todos os males deste mundo, mas já estava demasiado fatigada. Gostava que tivesses percebido que só precisava de descansar um tempo.

Cansei-me. E cansei-te. Mea culpa.

Mas... Estarás tu assim tão cansado? Afinal, eu ainda aqui estou. Não te mandei embora e não te fechei na rua. Tu é que bateste com a porta. Tu fechaste-te lá fora... 

Espero sinceramente que tenhas levado a chave, e que encontres o caminho de volta. 

Se não voltares? Bem... Tua culpa.


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