Eu vou contigo

Todos os dias me pergunto por onde andas.

Se estás bem onde estás e se és feliz com quem estás.

Confesso que, sendo o ser egoísta que conheceste, desejo ainda secretamente que a solidão seja a tua companhia marital. 

Lembro-me de cada pormenor daquele dia no aeroporto.

Lembro-me de olhar para ti e de sentir a saudade a inundar-me o sorriso forçado. Tinhas a sacola verde no colo e dela espreitava um dos muitos livros que tanto amavas. Gostava de ter tido tempo para te amar tanto como tu amavas ler.

Faltavam ainda duas horas para o embarque e eu já sentia a tua falta. Seguravas a minha mão na tua, apoiando ambas na sacola e olhavas incessantemente para o relógio por cima da bilheteira, na esperança que o tempo pudesse parar por ali. 

Mas não parou e, inevitavelmente, tiveste de largar a minha mão por muito que eu te quisesse prender nos meus braços. E todos os dias oiço a tua voz a perguntar-me "Amor, não queres vir comigo?". E todas as noites me martirizo por apenas te ter deixado chorosa com um "não posso" injustificável. Pensava que não seria capaz de deixar tudo para trás: família, amigos, locais, cheiros... E por isso te deixei ir embora.

Passaram as semanas e comecei a perceber que tu eras mais que tudo isso, e que nada fazia sentido sem que estivesses por perto. 

Só queria, por um momento, que os anos, os dias e as horas voltassem para trás. Queria dizer-te que te amo mais do que a qualquer memória que tenho de nós. Queria mostrar-te que a minha família és tu e os filhos que podíamos ter tido. Queria-te a meu lado, em qualquer lugar. Queria sentir o cheiro do teu cabelo pela manhã, e abraçar-te todas as noites até adormeceres com um livro nas mãos.

Queria apenas retroceder no tempo e dizer-te que... 

Eu vou contigo... 

Porque és tu quem eu quero; és tu que eu amo e amarei até ao fim dos meus dias. Viver sem ti é inconcebível, e precisei de te perder para te ter tão presente em mim.

Até ao fim do mundo, irei contigo. Até ao fim do tempo, irei sempre contigo.